O simpósio internacional “A Vida Secreta dos Objetos: Medialidades, Materialidades, Temporalidades”, que aconteceu no Rio de Janeiro de 1 a 3 de agosto, foi um sucesso de público, mas de mil e cem pessoas se inscreveram, o que obrigou a organização do evento transmitir em tempo real as comunicações dos convidados.  Veja abaixo as comunicações de Bruno Latour:

 

A motivação para essa conferência é que “existem hoje fortes indicações de que uma transformação significativa está se processando no horizonte das chamadas “ciências humanas” (Geisteswissenschaften, sciences humaines, Humanities). Após um período de intensa crise e indefinição, no qual as ciências do homem buscaram ocasionalmente espelhar-se ou aproximar-se das ciências duras, o início do século XXI possivelmente testemunha uma renovação de disciplinas, abordagens e metodologias. A partir do questionamento de seus fundamentos tradicionais, as ciências humanas vêm se reinventando, numa ampla reconfiguração de suas fronteiras e mesmo da noção de “humanidade” que lhe servia como pedra de toque. Um dos domínios onde a riqueza desse novo cenário se apresenta mais claramente é o dos estudos de mídia.

Impulsionados pelo impacto das novas tecnologias digitais, os estudos de mídia inteligentemente souberam apropriar-se dos princípios epistemológicos e dos grandes temas teóricos que têm caracterizado o cenário cultural contemporâneo. O objetivo do Simpósio “A Vida Secreta dos Objetos: Medialidades, Materialidades, Temporalidades” é ensaiar uma sistematização desse novo cenário a partir de uma perspectiva transdisciplinar, mas com decisivo foco nos estudos de comunicação e cultura. Os três eixos nos quais se estrutura o Simpósio representam nós de articulação fundamentais que atravessam diferentes disciplinas das humanidades, da sociologia à filosofia, mas que adquirem sentido especial no contexto dos novos estudos de comunicação. Adota-se como pressuposto central a necessidade de se repensar radicalmente a noção de agência em um contexto epistêmico onde a ação e o impacto dos objetos, meios e materialidades tecnológicas torna-se cada vez mais importante. Desse modo, trata-se de investigar não só o lugar dos atores humanos em um mundo enriquecido pela vida polimórfica e mutante dos objetos, mas de se pôr em destaque as questões que a forte tradição hermenêutica das humanidades acabou freqüentemente por obscurecer: o que, sem constituir propriamente sentido, contribui para a constituição do sentido? O que é um meio e como se dão os processos de mediação? Em que aspectos as materialidades tecnológicas informam mundos culturais e determinam formas de cognição? Que novos modelos de investigação histórica das técnicas e da cultura estão emergindo no interior dos atuais paradigmas epistêmicos? De que modos a dimensão material da experiência se conjuga com as dimensões imateriais da cultura? O que significa elaborar uma filosofia dirigida aos objetos? Em que sentidos a categoria do humano se reconfigura face a nossas novas relações com os objetos e as entidades inumanas? Qual a importância do legado da genealogia e da arqueologia dos saberes (Nietzsche, Foucault) para uma perspectivização dos impactos da “nova” cultura digital? Por meio de painéis interdisciplinares, nos quais filósofos, antropólogos e sociólogos irão discutir com especialistas em estudos de mídia, pretende-se abordar tais questões, de modo a elaborar cartografias preliminares para um novo território epistemológico ainda em estágio inicial de exploração.”

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